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SÊDE PERFEITOS!

Geoffrey Hodson


Parte I

DO IRREAL AO REAL
 

Capítulo I

O Bebê
 

Capítulo II

Do nascimento aos 10 anos
 

Capítulo III

Os Princípios da Educação
 

Capítulo IV

Dos 10 aos 20 anos
 

Capítulo V

Dos 20 aos 40 anos

 

Capítulo VI

Dos 40 aos 80 anos

 

Parte II

OS TRÊS CAMINHOS

 

Capítulo VII

O Caminho da Vontade
 

Capítulo VIII

O Caminho do Conhecimento
 

Capítulo IX

O Caminho do  Amor


PREFÁCIO
 

 

Este livro é o segundo da série contendo os ensinamentos recebidos do Anjo que inspirou o volume intitulado A Fraternidade de Anjos e Homens.

 

Talvez alguns considerem estes ensinamentos como inteiramente impraticáveis, de qualquer modo eu os ofereço ao estudo porque creio que eles contém muito que é valioso e significativo nos dias de hoje, quando a mudança da consciência da raça está considerando inadequados os velhos métodos de educação, e novos estão sendo procurados em toda parte.

Os erros e deficiências deste livro são devidos à minha pouca competência em receber o ensino do Anjo em toda sua claridade e beleza; minha esperança é que lampejos da luz de sua sabedoria possam encontrar caminho através da escuridão de minhas limitações e possam servir para iluminar as mentes receptivas, em particular aquelas encarregadas de conduzir as crianças da nova era.

Somente pinceladas gerais são esboçadas neste volume, oferecido agora no alvorecer de um novo dia na evolução da consciência da raça humana; ensinos mais detalhados podem ser esperados à medida que o Sol atinja seu zênite, pois então as consciências humana e angélica estarão unidas para formar um esplêndido canal para o poder, a sabedoria, e o conhecimento dAquele que é a fonte única de tudo isso.

Os veículos de consciência humanos terão, lá, atingido um grau de refinamento e responsividade pelo qual os novos poderes resultantes daquela fusão possam ser adequadamente expressos.

O Anjo sugeriu indicar-se os princípios mais importantes e as influências ideais através dos quais o homem possa capacitar-se para desenvolver em plena perfeição as qualidades divinas das quais todo ser humano é herdeiro; daí o título: "Sêde Perfeitos!"

Geoffrey Hodson

 

 

Nota do Tradutor

 

 

Será importante manter em mente, durante a leitura deste livro, que o termo "forma" (em inglês, form), é largamente utilizado em dois sentidos, intercambiáveis: o primeiro, significando "corpo"; o segundo, significando "matéria", além do significado óbvio de "formato, aparência". O Autor entende o plano das formas como o dos objetos e corpos visíveis e perceptíveis aos sentidos comuns (os cinco sentidos corporais, mais as emoções e os pensamentos), e o plano de vida ou plano da alma, sem forma definida, de pura vida e luz, do qual usualmente somos inconscientes e que preenche e vivifica o primeiro, seu reflexo manifesto aos sentidos grosseiros.

O Autor postula que o acesso, conhecimento e domínio do plano invisível da alma é possível graças ao despertar e exercício das faculdades divinas latentes em cada ser. Considera o homem um ente complexo, composto de vários corpos, alguns pertencentes aos mundos da forma (corpos físico, emocional e mental, constituindo o eu inferior), e outros aos mundos sem forma (corpo espiritual, Ego ou Eu Superior, encarnação da Luz Infinita, ou do Pai Eterno, da qual é parte inseparável e com a qual perfaz uma só vida, no oceano de luz onde todas as outras vidas estão unificadas). De modo semelhante, o Autor declara que o próprio Pai possui um Eu Superior: Deus, pura e simplesmente, entendido na acepção de Supremo Criador de toda a realidade visível e invisível. Assim, o homem seria um ente vivo nestes vários planos, mas consciente e ativo apenas, usualmente, nos mais inferiores, com os quais se identifica e se confunde. Em última análise, para o Autor, todo homem, visto ser "uma centelha da Chama Única", é um Deus em embrião, evoluindo gradativamente até sua expressão plena. É parte deste ensino, também, o conceito de reencarnação, ou seja, a evolução das almas através da utilização de inúmeros corpos, num aperfeiçoamento progressivo e resultando numa auto-expressão cada vez mais perfeita e mais completa.

Desde o início, como o título já indica, este ensino objetiva transformar os homens comuns em avataras[1], em outros Cristos, em salvadores de mundos, em mestres espirituais, reconquistando a herança divina que o Autor afirma ser o natural de todos os seres. Para o leitor ocidental, como é assumido no prefácio, tal expectativa pode ser considerada absurda, deslocada, ou no mínimo excessivamente otimista, dentro da perspectiva de uma única – e breve – existência, o que é a concepção mais usual no Ocidente. Alguns lhe darão pouco crédito, ainda, por não admitirem outras premissas básicas onde se fundamentam os ensinos apresentados, quais sejam: a multiplicidade dos corpos constituintes do homem, a existência (mesmo que em tese) de mundos outros além deste visível, ou a existência de Deus e de um plano divino para o mundo. São obstáculos ao pleno aproveitamento deste material, mas há que se reconhecer e respeitar a diversidade de constituição de cada homem, derivada de múltiplas situações sociais, religiosas, culturais, físicas, psíquicas e tantas outras que temos presentemente. Outros mais pragmáticos terão dificuldade em penetrar os significados objetivos além do véu de imagens simbólicas que utiliza em sua linguagem exaltada e altamente poética. Para estes o proveito deste livro pode ser escasso.

Recomendamos, assim, que o leitor se entregue à leitura destas lições com o espírito aberto, como se se deixasse levar por uma música nova e talvez exótica, mas quem sabe  estranhamente familiar, deixando que suas mais puras motivações aflorem e se mesclem ao que vai lendo, e procurando vibrar em uníssono com as idéias que se apresentam. Maior proveito advirá se procurar aprofundar mais tarde o que leu em meditações particulares, e se, mesmo a título de curiosidade, procurar praticar alguma das inúmeras sugestões de estudo e exercício que o autor sugere.

Mesmo tomando-se tais ensinos como uma alegoria, seja do progresso da alma através das eras, seja da evolução da consciência da humanidade através das sucessivas civilizações, muita coisa pode ser motivo para reflexões individuais proveitosas, e muitos pontos, convencendo-nos de seu valor ético ou moral, senão espiritual, podem ser aplicados mesmo a partir de agora. Frutos notáveis e inesperados podem assim ser obtidos, e muito melhoramento pode ser implementado na vida cotidiana, muitos relacionamentos podem ser aperfeiçoados, muitos equívocos podem ser corrigidos, e mesmo se a meta última - o homem perfeito e divino - descrito nos capítulos referentes às idades maduras, não for atingida, qualquer esforço empreendido na direção do aperfeiçoamento pessoal e/ou do grupo não terá sido vão: nossa própria vida terá sido enriquecida, teremos trazido algum progresso, conforto e alívio a irmãos mais necessitados, e outros poderão ter-se inspirado em nosso esforço em direção a um estilo de vida mais elevado, mais pleno de amor, fraternidade e altruísmo.

 

Ricardo Frantz

 

 

PARTE I

 

DO IRREAL AO REAL
 

 Capítulo I

O Bebê
 

 

O bebê é um símbolo de um universo recém-nascido; seu primeiro alento é como o alento de Deus soprando sobre a face das águas, e, seu primeiro choro, a música da voz de Deus, o som da Palavra Criadora. O primeiro alento e o primeiro choro do bebê são as mensagens divinas que ele traz de Deus ao homem.  O bebê vem diretamente do Criador, ele é um mensageiro de Deus, a coisa mais celestial sobre a face da Terra e, de todas, a mais próxima do Divino. O bebê vem do passado e passa pelo ventre materno em sua caminhada para o futuro. Ao nascer, o passado brilha todo em seu redor, como a glória do sol poente; o futuro ele tem em suas mãos. Passado, presente e futuro formam a trindade de sua Chama Divina.

O bebê nasce com o intuito de unir passado, presente e futuro. O objetivo de toda vida humana é conhecer passado, presente e futuro como uma unidade; tudo deve ser subordinado ao cumprimento deste destino.

Até o nascimento o bebê está nas mãos de Deus, que tudo arranjou para o cumprimento daquele destino. Ao nascer a criança é liberada das mãos de Deus e entregue nas mãos do homem; o homem deve conduzi-la de volta a Deus. A razão para esta peregrinação, o motivo deste aprisionamento voluntário na carne é que ela possa aprender a maneira de vir de Deus e, através dos mundos materiais, voltar para Deus.

A diferença entre a saída e o retorno é que, à medida que ela avança, as mãos de Deus a sustentam; à medida que ela retorna, suporta a si mesma. Crescendo, a lição que a pessoa aprende é a de liberar o poder divino que abriga em si, para que possa conduzir-se sozinha. Tendo aprendido, entrega-se novamente nas mãos que a trouxeram para cá, mãos que, invisíveis, a guardaram e que ela agora enche com preciosas dádivas de ouro, incenso e mirra, símbolos da Trindade interna, cujo poder tríplice ela usou para conquistar o mundo material, traduzindo-o em vontade, amor e pensamento; estes são os poderes através dos quais reina absoluta sobre todos os mundos da forma[2].

Tendo cumprido seu destino, finalmente ajoelha-se diante do trono de seu Pai; os dons com que seu Pai a enviou, aquelas jóias preciosas, profundamente ocultas em seu coração, agora são refulgentes raios de vida, brilhando faiscantes da coroa que porta sobre sua régia cabeça. Permanece à direita de seu Pai, não mais uma criança, não mais um homem, mas criança e homem crescidos em Deus, o verdadeiro Eu do Pai. Este é o propósito, objetivo e finalidade de tudo o que sucede ao bebê; a isso, tudo seja subordinado.

À medida que a criança, símbolo do universo recém-nascido, vai caminhando ao longo de sua estrada predestinada, seu progresso e seu crescimento devem ser garantidos pela sabedoria da vida interna, e não cerceada por poderes externos. Ao contrário do que já foi ensinado por antigas tradições, Deus não interfere. Ele, que preencheu com vida a forma, conhece que nenhum mal pode sobrevir àquela vida, ocorra o que quer que seja à forma. Ele auxilia continuamente a partir de dentro pelo impulso rítmico do batimento de Seu coração. Ciclicamente, em certas épocas da vida humana e universal, Ele introduz poder adicional, ilumina com nova luz, acelera a evolução com um impulso de Sua vontade. Assim Ele estimula a Alma Universal, sabendo que no devido tempo o impulso encontrará expressão na forma.

Assim deveriam os pais cultivar a criança, procurando sempre iluminar e reforçar a alma, e deixando-a livre para usar o poder que lhe é acrescentado para adquirir domínio sobre as formas. Desta maneira ambos os pais deveriam concentrar seu auxilio sobre a alma na criança. Ao corpo, deixe-se fazer tudo por si mesmo, exceto o que seu estado infantil, pouco desenvolvido, impeça. Toda a tendência em direção à auto-suficiência deveria ser procurada, reforçada e incentivada, o ideal consistindo em dispensar auxílio em todas as coisas e circunstâncias assim que possível.

A criança não poderá desenvolver-se no mundo se tolhida por excesso de orientação ou intimidada por excesso de cuidados. Mesmo se no início cair, deixai-a levantar sozinha, evitando-se procurar secar as lágrimas infantis muito de pronto, assim acostumando-a cedo  a caminhar sozinha, interferindo apenas quando um real perigo anunciar-se. Não é bom estimular o desenvolvimento de hábitos rígidos, ou de pequenas manias infantis, pois limitam a alma ao criar modos de comportamento que a força-vida se acostumará a seguir e que tomarão a forma de um caráter pessoal muito prematuramente.

Recordando sua própria infância, os pais encorajarão o bebê a ser observador, instituindo cedo na vida o cultivo de suas aptidões e do conhecimento, para que o professor encontre rico material sobre que trabalhar, quando a criança venha a ele para tornar-se aluno.

A liberdade é o  maior dos dons que os pais podem dar à alma, para ajudá-la em sua tarefa de dominar a técnica de viver aprisionada na forma; liberdade de mente, de sentimento e de ação. Em cada berçário esta deveria ser a regra: que a criança seja livre. Liberdade de corpo, não sufocado por roupagem pesada que impeça o contato de sua pele com o ar; liberdade de espojar-se e pular e caminhar sempre que surgir o impulso. Liberdade de sentimento, não regulamentado por um amor excessivamente personalista, nem enclausurado por qualquer sentimento de posse sobre seu corpo. Antes, deveriam os pais ser imbuídos de um amor tal que, mesclado com reverência, reconhece o privilégio da paternidade, o privilégio de receber este maravilhoso mensageiro diretamente das mãos de Deus. Liberdade de mente, para que o corpo mental possa crescer de acordo com o padrão da alma, livre dos preconceitos e limitações dos conhecimentos adquiridos pelos mais idosos nos mundos da forma.

Possa assim o Eu Superior[3] da criança encontrar um caminho livre de obstáculos à plena expressão das inúmeras faculdades que acumulou em muitos nascimentos e mortes anteriores. Para o homem, possa a paternidade ser uma fonte inesgotável de alegria, um campo para o serviço altruísta, e uma experiência que enriquecerá o tesouro de sua própria alma.

 

 

 

Capítulo II

Do nascimento aos 10 anos
 

 

Os períodos da vida humana, do nascimento à morte, são divididos em décadas.  Durante cada período um tipo especial de vida deveria ser vivida, adaptada exatamente às necessidades do corpo e mente em desenvolvimento.

A primeira década deveria ser devotada inteiramente ao crescimento; cada experiência deveria conduzir à expansão da mente, do sentimento e do corpo. A força vital[4] está-se derramando em toda sua abundância no tríplice homem que se está formando, que nada impeça seu fluxo. Cada célula deve recebê-la, assim cada órgão pode ser estimulado e cada sentido desenvolvido ao máximo. Durante este período a criança deve representar uma encarnação da força vital; mais tarde, ela representará a encarnação da mente e, por fim, a encarnação do espírito. A exuberância do poder vital é a característica dominante nesta primeira década e dá à criança seus períodos de atividade incansável, a conduz ao exercício e ao uso de suas emergentes faculdades, para que mais tarde ela possa adquirir uma elasticidade pujante nos músculos e tendões. Nenhum limite deveria ser imposto a esta ativa auto-expressão; à criança deveria ser permitido cansar-se, e então dormir ao ar livre até que sua força vital estivesse renovada.

Os primeiros dez anos consistem em ciclos alternados de atividade e descanso, sua duração sendo governada apenas pelas necessidades da vida interna em efervescência. A criança deveria poder brincar até o cansaço, então que pudesse dormir até revigorar-se, e então brincar de novo; brincadeira e descanso, os dois companheiros dos primeiros dez anos, formam, com a alimentação, uma trindade essencial.

A Natureza desempenha um papel especial nesta fase, e deveria ser a única mestra da criança até a idade dos dez anos. As lições que aprenderá da Natureza são duas: observar e expressar. Nenhuma pressão deveria ser feita no sentido de fazê-la memorizar ou catalogar. A criança não deveria ser instada a repetições ou decorebas, pois a repetição embota o cérebro impondo um limite ao poder de observação, à capacidade de compreensão e à aquisição de novas experiências; restringe a um único canal a energia que deve estar livre para expressar-se através de qualquer canal que o pensamento, sentimento e ação possam proporcionar. A  regra para a primeira década é permitir que a força vital flua livre e desobstruída, e que se use influência externa apenas para protegê-la de perigos.

O corpo em crescimento não deveria ser vestido pesadamente, a roupa deveria ser leve, permitindo à força vital ter sua parte na geração de calor. A única pressão sobre a pele deve ser a do próprio peso do corpo da criança, e o movimento dos membros deve ser deixado livre. Cabeça, mãos e pés deveriam ser deixados descobertos, assim como o pescoço e garganta, estes são pontos vitais durante os primeiros anos. A criança, tanto quanto possível, deveria ser deixada viver o quanto possível fora de casa.

Todas as crianças têm uma afinidade natural pelas árvores, cuja força vital elas absorvem e cujo verdor é benéfico ao crescimento. A criança deveria ser ensinada a amar as árvores e a considerá-las suas amigas; os animaizinhos, seus companheiros de folguedos, e as velhas árvores, verdadeiros pais divinos.

As árvores podem ser os mestres da criança; delas aprenderá tudo o que precisa saber sobre nascimento e morte, sobre força e retidão, sobre serviço amparador e sobre equilíbrio; sobre sujeição a uma força que, uma vez ereta, não pode ser curvada; sobre sementes e sua transformação; sobre pássaros e insetos que compartilham com ela o serviço das árvores. Ela deveria ser deixada dormir em redes suspensas em seus ramos, com ar e vitalidade fluindo livremente em seu redor. Ela deveria brincar em torno dos troncos, galhos e folhas, e deixar que eles a protegessem da chuva. Junto aos seus guardiães humanos e seus amigos invisíveis, as árvores são suas companhias mais valiosas. Em primeiro lugar a criança deveria se aproximar delas como a seres vivos conscientes, amigos que a conhecem bem e falam-lhe através de ramos dançarinos e folhas sussurrantes; deixai-a aprender sozinha a interpretar essa linguagem. Ao mesmo tempo, a necessidade de luz solar deve ser mantida em mente. Nestes anos a criança se beneficiará da companhia de animais e de outras crianças de sua idade. Nenhuma criança deveria ser mantida afastada destes três: árvores, animais e outras crianças.

Nenhum limite deveria ser imposto ao jogo de sua imaginação, exceto na correção de falseamento deliberado no terreno dos fatos concretos. Ela deveria ser ensinada apenas a observar. Não há necessidade alguma em encher sua pequena mente com nomes e palavras, nem tampouco em estimular a tomada de conclusões; ela deveria ser deixada livre para fazer isso por si mesma. Que sua mente possa mergulhar no conhecimento, e não que o conhecimento seja introduzido nela: confie-se na intuição infantil e na orientação do seu Eu Divino, que fará todo o necessário a respeito de tudo o que ela observar.

A vida humana e o amor que a cercam tendam a torná-la impessoal. Desde o início ela deve aprender que, junto com as árvores, os pássaros e os outros animais, ela é apenas uma parte do esquema, uma unidade que não é mais importante que as outras. A maior qualidade de caráter que poderia emergir durante os primeiros dez anos é a da impessoalidade; possa ela conservá-la ao longo de toda sua existência, pois será protegida de muitas tristezas.

O afeto pela criança deve manifestar-se sob forma de sábio e cuidadoso amor, e, acima de tudo, autocontrole em tudo o que lhe diz respeito. Em nenhuma ocasião deve receber a impressão de que é especialmente favorecida, mesmo quando doente. O pensamento deve ser de que todas as coisas necessárias serão providenciadas, as quais devem ser consideradas meios de curar a doença antes que privilégios especiais concedidos à criança. Ela deve ignorar o significado de privilégio pessoal.

As únicas diretrizes que deveriam nortear sua vida nos primeiros anos são aquelas ditadas pela consideração do bem-estar da comunidade; a isso ela prontamente deve submeter-se; ela rápido aprenderá isso, se ensinada a observar este traço nos animais, árvores e pássaros. A necessidade de estabelecer limites, se surgir, deveria sempre ser direcionada à salvaguarda do bem comum; sua atuação deveria ser julgada correta ou equivocada de acordo com este princípio.

Assim os primeiros dez anos deveriam transcorrer em crescimento, observação e no tornar-se impessoal. Isto obtido, ela estará apta a aprender.

 

 

 

 

Capítulo III

Os Princípios da Educação

 

 

O princípio pelo qual a educação da criança deveria ser guiado é que todo o conhecimento está disponível tão logo ela se torne capaz de adquiri-lo. Assim, a escolarização deveria ter como objetivo o treiná-la a adquirir conhecimento, qualquer conhecimento que ela necessitar. O conhecimento em si, como um objeto de aprendizado, não é o escopo da educação; o objetivo é o desenvolvimento da capacidade de aprender e de adquirir sabedoria.

A educação deveria ser acompanhada de meditação. Meditação deveria ser considerada como algo progressivo por natureza, levando-se em conta a idade da criança e os níveis de consciência alcançados. Ela não pode ser educada até que os canais através dos quais obtêm-se o conhecimento estejam abertos; eles somente podem ser abertos através da meditação.

Os níveis de consciência, suas características, os veículos que eles utilizam, e os modos através dos quais a consciência pode ser focalizada à vontade sobre qualquer um deles, devem tornar-se familiares ao estudante nos primeiros anos de sua vida escolar. Os princípios e leis da ciência natural devem ser estudados e aplicados à vida e à consciência, a fim de que o escolar logo possa descobrir que sua própria natureza e a do mundo onde vive são regidos por leis exatas.

Princípios, antes que fatos, devem ser os objetos de estudo. A prática da apresentação à mente estudantil de grandes coleções de fatos é um obstáculo ao desenvolvimento  de sua capacidade de adquirir conhecimento. Isto é uma crueldade que deve desaparecer no futuro, pois mente e cérebro tornam-se embotados por um excesso de informações factuais; em vez disso, devem ser estimulados, animados e iluminados pela pesquisa de princípios. Um único princípio, compreendido e desenvolvido até sua perfeição, vale mais que a aquisição de milhares de informações.

O objeto mais evidente no mundo da forma retrata apenas um fragmento da verdade, do princípio do qual é uma expressão. Objetos atrelam a mente à ilusão da separatividade, princípios alçam-na à percepção da unidade. Assim como relacionar eventos aos objetos pode conduzir à descoberta do princípio, do mesmo modo o estudo dos princípios pode levar à compreensão da unidade: a maior iluminação de que a mente humana é capaz de obter.

O alvo da educação é o desenvolvimento da razão pura, do pensamento abstrato e da vontade. Os poucos mas necessários dados objetivos que o estudante deve aprender não precisam ser decorados; é preciso antes meditar sobre eles, até que o princípio subjacente seja-lhe revelado. Quando diversos princípios forem assim descobertos, uma meditação mais avançada e profunda revelará sua unidade; daí advirá uma perfeita compreensão do encadeamento de causas e efeitos, desde o início interno até a expressão externa.

Uma aplicação prática disso pode ser empregada com sucesso da seguinte maneira: ao estudante ou turma (neste último caso, deve ser de tamanho reduzido, consistindo num grupo de temperamento e inclinações semelhantes, e unidos por afeto mútuo), devem ser apresentados uma série de fatos suscetíveis de coordenação, e que expressem um mesmo princípio. Os fatos escolhidos podem ser históricos, psicológicos, científicos, políticos, matemáticos ou artísticos; o estudante meditará sobre eles e, alçando sua consciência até o mais alto nível que tiver aprendido a atingir, procurará discernir o princípio unificador.

O professor igualmente deverá meditar, tomando o cuidado de não influenciar suas mentes, sentimentos ou cérebros com suas próprias impressões, e deve auxiliá-los a obter a auto-iluminação, advinda dos níveis mental superior ou intuicional. O estudante deve persistir na meditação até que perceba o princípio, não importando quanto tempo dispenda nisso. Quando um certo número de princípios tiver sido descoberto desta maneira, aqueles que já não apresentarem dificuldade ao estudante podem ser reunidos e utilizados para uma meditação ainda mais aprofundada, até que a iluminação seja obtida.

Apenas em uma direção o estudante deveria sentir-se pressionado pelas exigências curriculares: ele deveria ser treinado até o maior refinamento possível na agudeza e exatidão de pensamento; exatidão de sentimento e de ação seguindo-se como um corolário natural. Da exatidão de pensamento deriva a precisão na ação, e estes dois são essenciais na aquisição de sabedoria e sua expressão na vida.

O esforço do professor deve sempre direcionar-se na condução do pupilo à fonte de todo o conhecimento: a sabedoria. Esta fonte não se encontra em nenhuma biblioteca do mundo, mas é a sabedoria enciclopédica entesourada no sacrário da alma. Esta sabedoria é dual por natureza, consistindo nas experiências acumuladas em milhares de vidas passadas no mundo da forma. A sabedoria que ele tiver derivado da vida, os frutos de sua peregrinação, a essência que ele tiver destilado do sofrimento e da alegria, o precioso perfume de cada rosa que tiver florescido em seu coração, vida após vida, este é o tesouro da alma, inestimável e indestrutível, esta é a visão admirável, a glória do homem celeste, a jóia na coroa de seu Pai.

O símbolo pelo qual esta visão pode ser representada é o de duas flores de longas pétalas, conectadas por uma esfera, uma flor apontando para os céus, outra para a terra. A flor que olha para baixo tem pétalas verdes e douradas, com um coração brilhante do mais claro amarelo; a esfera é uma bola de prata, e a flor que se ergue acima tem pétalas de um branco radiante. A flor inferior é formada pela sabedoria da alma armazenada na esfera; com seu brilho ela envolve o homem iluminado; a do alto também irradia a partir da esfera; sua luz flui para cima formando um cálice luminoso no qual a sabedoria do Pai, o vinho de Deus, irá derramar-se.

Do mesmo modo como a sabedoria do homem é a essência de toda experiência da vida planetária, assim a sabedoria do Pai é a essência de toda experiência da vida universal; a sabedoria do Supremo é o único  licor espiritual no qual a alma do homem sacia sua sede; é o néctar dos deuses, a sagrada ambrosia; é também o sangue vital do universo.

Do mesmo modo que o homem, ao longo de muitas vidas, acumula sabedoria sob diversos corpos e em diversos mundos, igualmente Deus adquire a sabedoria universal através de muitos sistemas solares, através de muitos universos. Desta maneira Deus prossegue em sua própria poderosa espiral evolucionária, através de mundos e sistemas planetários que Ele cria, mantém e destrói, na vasta procissão que consiste sua assombrosa vida de perpétua Criação; o fruto de seus muitos jardins disseminados no espaço é Sabedoria. Ele é a Árvore, que sempre cresce no Éden sempiterno do universo; Adão é o homem terreno, Eva é o homem celeste; a serpente é o símbolo da sabedoria. Nem Adão nem Eva pecaram: procuravam sabedoria. A serpente é, sucessivamente, o professor do homem em evolução, o Mestre da alma, e o iniciador e iluminador que preenche aquele cálice com a sabedoria do Pai, assim, na esfera a sabedoria do homem e a de Deus estão entremescladas: esta é a sabedoria dual do homem. A esfera é a maçã do Éden, o fruto do conhecimento do bem e do mal.

O professor deveria manter este símbolo sempre vivo em sua mente; seria de valia pintá-lo ou esculpí-lo, para que ornamentasse toda sala onde o sagrado ritual do ensino fosse desempenhado. Meditação sobre a Árvore, crescendo entre as belezas do Éden, sobre o homem, sobre a mulher, sobre a serpente, auxiliariam tanto mestres quanto discípulos, como atividades complementares em direção à aquisição de sabedoria.

 

 

 

Capítulo IV

Dos 10 aos 20 anos
 

 

Os anos de 10 a 20 devem ser despendidos na iniciação da busca por sabedoria sob os cuidados de um professor; é a idade do pássaro no homem, o período no qual ele está aprendendo a exercitar suas asas e voar em direção às altas paragens da razão pura. Dentro de si mesmo ele deve procurar e encontrar o pássaro, cujas asas o erguerão até lá. Ele não é animal-e-homem, ele é ave-e-homem; entre os 10 e os 20 anos ele deve aprender a montar no pássaro de sua alma.

Antes que ele adentre o período de homem-animal, no qual não mais poderá voar, ele não deveria conhecer nenhum toque de paixão; a urgência criativa[5] não deveria descer à carne até que seu primeiro período de vôo tenha sido ultrapassado. Ele deve aprender os princípios da criação[6], mas não experimentá-la de fato. A força criativa, assim armazenada e não expressa, dará imenso vigor ao corpo e à mente; ele deve ser forte, mas puro. É o tempo ideal para voar, o tempo em que a alma pode usar suas asas. O corpo deve semelhar ao de um pássaro em seu desenvolvimento: ágil, leve e ativo; forte, não em peso ou tamanho, em músculos ou ossos, mas pleno de energia nervosa[7]; deve ser treinado para uma pronta e vivaz obediência à vontade, para uma imediata resposta dos membros ao impulso do cérebro.

Durante este período ele deve desenvolver a habilidade das mãos, do olho e do cérebro, desenvolver aguda precisão, exata percepção no andar ou no balançar-se, das distâncias e das alturas, do movimento e do peso. Tudo isso ele pode melhor descobrir entre as árvores, que ele pode escalar até os últimos galhos, aprendendo a mover-se, ágil e gracioso, de galho em galho. Não há melhor parque de diversões que este, nenhuma academia de ginástica no mundo é melhor do que uma grande mata de velhas e grandes árvores; aqui ele pode exercitar-se até que seu corpo, movendo-se por entre as árvores, se torne semelhante ao de um pássaro, na habilidade e precisão com que este se move através do ar. Nestes anos, o símbolo que ele deveria manter em mente é o do pássaro, o qual ele deveria  procurar imitar até o limite permitido pelo seu corpo humano; aprendendo o silêncio, a agilidade nos movimentos, um perfeito instinto de direção, e a maestria sobre o elemento em que vive; em suma, um perfeito desenvolvimento de todos os seus poderes.

Ao mesmo tempo ele deve desenvolver a capacidade para a introspecção, para o movimento a partir do objeto em direção ao princípio, e ganhar habilidade de procurar a essência antes que a forma, de discriminar entre o temporal, externo, irreal, e o eterno. Ele deve adquirir uma sede pelo real.

Quando tiver adquirido familiaridade com as vestimentas de sua alma, os seus corpos de carne, sentimento e pensamento, e tiver aprendido a reconhecer-se como sendo algo além disso, ao mesmo tempo senhor e vida desses corpos, então poderá adentrar livremente nos domínios dos mundos sem forma.

Terá lançado então os fundamentos do templo que completará em anos posteriores, e terá adquirido faculdades que poderá aperfeiçoar antes de morrer; terá contemplado a visão pela qual sua vida deve ser regida. Conhecendo o propósito de seu ser, terá plantado em seu coração as sementes da sabedoria. Ainda que possa chegar muito breve o tempo em que tenha que fechar suas asas e concentrar-se sobre outros aspectos de seu ser, as sementes germinarão; silenciosamente elas crescerão. Mais adiante, suas asas poderão novamente se abrir, e, tendo sustentado o menino e descansado por algum tempo, tornar-se-ão fortes bastante para sustentar o homem em sua maturidade.

Então poderão as sementes de sabedoria tornar-se uma poderosa árvore, e a árvore poderá dar frutos; tal é a promessa para seus últimos anos, para a qual, agora em sua juventude, ele se prepara. Os frutos de sua vida largamente dependem da sabedoria pela qual for guiado, ensinado e treinado nos primeiros vinte anos de sua vida.

Para esta grande e nobre tarefa o professor é chamado.

 

 

 

 

Capítulo V

Dos 20 aos 40 anos
 

 

O jovem agora entra no terceiro período de sua vida, o período do animal-homem. Dos vinte aos quarenta anos o mundo é sua escola, na qual deve entrar, e na qual será testado; somente almas avançadas poderão ultrapassar esta fase e conservar o homem-pássaro da juventude. Ele agora deixa as árvores e os pássaros, que não lhe ensinam mais, e adentra o mundo dos homens em busca do estado adulto[8], que inicia ao primeiro contato consciente com o fogo criativo que sente erguer-se dentro de si exigindo expressão - enquanto não descobrir quais os meios para esta expressão haverá conflito em sua alma .

Deste conflito, a vontade nasce. Onde quer que sofra derrota, ou erga-se triunfante sobre o desejo, a vontade nasce; a diferença entre derrota e triunfo mostra-se na rapidez do crescimento da vontade. Se tiver sido ensinado corretamente, aprendendo dos animais, flores, pássaros e árvores, ele estará pronto para a luta.

A tarefa do professor nos primeiros anos é prevení-lo do conflito, para que, prevenido, possa armar-se antecipadamente. É sua tarefa igualmente explicar-lhe a natureza do conflito, seu propósito, mecanismo e objetivo final; é olhar para que o pupilo permaneça sempre distanciado e considere o assunto como uma ciência, estabelecendo uma atitude impessoal; que ele o conheça, mas não o sinta, que entenda a criação, mas não seja tocado por desejo.

Mantendo-se friamente científico em seus primeiros a anos, o pupilo deve aprender a reconhecer o fogo criativo e o ato criativo[9] como sagrados, de longe as coisas mais sagradas dentro dos reinos da natureza e da vida objetiva; ele deve ser treinado desde o início para aproximar-se dele com uma reverência próxima do temor, vendo-os como a mais divinamente direta manifestação do Deus que ele próprio é; ele deve ver a criação como um rito solene, uma dramatização microcósmica da gênese macrocósmica, uma cerimônia na qual microcosmo e macrocosmo se encontram.

Depois que tenha desenvolvido uma apreciação científica das leis que governam a criação nos mundos da forma, toda sua atenção deve ser dirigida para sua expressão espiritual; o amor e a natureza ensinarão o restante. Ele deve aprender a usar sua força criativa como uma fonte de poder que ele pode usar e direcionar à vontade; ele deve aprender os canais de seu fluxo, para que possa criar à vontade nos mundos sem forma do pensamento e sentimento, considerando sua expressão física de menor importância, e, tão cedo quanto possível, deixando-a de lado.

Assim ele aprenderá quais os canais adequados para os poderes criativos; seu uso e a extensão de seu conhecimento decidirão se deverá sofrer derrota e tornar-se um escravo da paixão, um simples pedaço de barro, com nervos e cérebro embotados, ou vencer e tornar-se um homem de fogo, um gênio, que vota seus dons divinos ao serviço da sua vontade.

Os canais adequados são: o CORAÇÃO, através do qual a força flui como crescente compaixão pelo mundo; a GARGANTA, dando à sua voz um irresistível poder de comando; os OLHOS, dando-lhe a visão do vidente; o TOPO DA CABEÇA, concedendo-lhe liberdade da carne, e o poder de atingir os mundos invisíveis. Estes canais ele deve aprender a usar com crescente poder, reservando o quinto canal, o corpo, para o propósito específico da procriação física.

A força criativa é um fogo que queima, seca e finalmente consome a alma, ou a refina, ilumina e lhe dá energia e vontade divinos; não há meio-termo, ainda que o homem possa procurar uma conciliação, condescendendo com seus desejos. Cada vez que ele gratifica suas paixões ele enfraquece as asas de sua alma, até que somente em algum distante futuro ela poderá esperar abrí-las novamente e levá-lo, brilhante, às regiões dos mundos espirituais.

Só uma única coisa pode evitar sua queda em profundezas nas quais o mau uso do poder divino ameaça lançar sua alma. Esta coisa salvadora é o amor; pois se o homem procria com amor, amor que é verdadeiro, altruísta, fiel, e sempre anelante de servir, então, e somente então, ele estará a salvo da escravidão das paixões.

Amor, e somente amor, o guiarão, dos vinte aos quarenta anos, através das dificuldades de sua entrada na idade adulta; assim, após os vinte anos, deveria procurar por amor, deveria encontrar a parceira de sua vida, alguém que tivesse recebido o mesmo treinamento e ensino que ele, uma amiga, companheira, também estudante da ciência da alma; alguém que, também tendo conhecido a alegria do vôo, veria que suas asas da alma, ainda que possam estar descansando, permanecem livres do visgo do desejo, da sensualidade e do vício. Juntos, cheios de amor, poderão unir-se e conduzir-se mutuamente através do escuro labirinto da vida terrena, cuja chave seu professor ter-lhes-á dado.

O professor agora se retira, pois não mais é necessário; cada um encontrou seu complemento, e encontrarão um no outro um professor. Assim é revelado o real propósito do casamento: ensino. Um ensina ao outro, cada qual é pupilo, cada um aprecia cada lição recebida e cresce em sabedoria.

A meta do casamento é o aperfeiçoamento e embelezamento da alma, não a criação na carne; isto é um incidente. O homem erra, e erra grosseiramente, enfatizando o incidente e ignorando a meta.

A fase entre os vinte e os quarenta anos deve ser devotada principalmente ao trabalho, ao amor, ao casamento e à paternidade. Através destes anos, como num fio de prata, devem ser enfileiradas as experiências da vida do homem como aluno; este é o fio que o conduzirá da juventude ao estado adulto, através do estado adulto para a maturidade, quando trará à plena frutificação a promessa de seus primeiros anos. Sua vida e amor serão enriquecidos pela paternidade, uma alta missão, para a qual é chamado pelo Pai Divino, que o colocou numa forma carnal e emprestou-lhe seu próprio poder de criar.

Em seus próprios filhos o homem devolverá todo o amor que seus pais lhe deram. Desde o início ele procurará guiar seus passos em direção à sabedoria; cercando o corpo com todos os cuidados necessários, deixará a alma livre para desenvolver-se à vontade. A criança deve ser cercada de harmonia e beleza, pois estas são expressões, nos mundos inferiores, da própria sabedoria. Ele deve olhar seus filhos como Deus olha seu universo, como algo no qual derramou sua própria vida, como uma forma que ele criou e deve nutrir, até que seu destino seja cumprido.

À idade dos quarenta chega o tempo em que deve tornar-se celibatário, se uma vez mais desejar expandir as asas que aprendeu usar durante sua virgindade. Uma vez mais deve cavalgar o grande pássaro, e continuar o vôo de seus primeiros anos. Deve voar acima e abaixo, sublimando-se em direção ao sol. O cisne, que carregou-o sobre as águas em sua juventude, tornou-se uma águia, que o levará até o sol. Todos os poderes da mente e do corpo serão necessários, se ele quiser embarcar naquele grande vôo da terra até o céu, e do céu até o trono de Deus.

 

           

 

 

Capítulo VI

Dos 40 aos 80 anos

 

 

Oito ciclos de dez anos integram a vida normal do homem; em cada um e em todos ele deve trabalhar tudo o que for significativo nos números governando os anos e as décadas[10]. Aos quarenta o primeiro grande ciclo é fechado, e um novo inicia, em que ele repetirá, num plano espiritual, aquilo que experimentou materialmente no ciclo anterior; ele deverá aprender a colher os frutos espirituais de sua semeadura material. Estes ciclos tardios podem ser passados em dezenas de vidas ou dezenas de anos, de acordo com o desenvolvimento de sua alma.

Aos quarenta ele deve renascer; é a idade natural do nascimento em novos mundos de consciência espiritual. Aos cinqüenta ele já deve estar liberto do domínio de seus corpos, que não mais devem cerceá-lo; tendo-os adestrado e conquistado, ele os deixa de lado à vontade, e cavalga livremente sobre as asas do grande pássaro dentro dos domínios da imortalidade; daí em diante ele é livre e imortal, um espírito utilizando corpos, não mais corpos enclausurando espírito. A Centelha Divina que veio e tomou forma de homem retorna, levando sua humanidade para Deus. O abismo foi ultrapassado, sobre o rio construiu-se uma ponte. Homem e Deus são um só.

Ele é uma coluna, suportando a ponte que se estende sobre o rio; seus pés se tornaram um pedestal firmado sobre alicerces profunda e imutavelmente fincados na terra, sua cabeça é um formoso capitel, sustentando, com força inabalável, o peso da ponte e daqueles para os quais ela foi erigida. Seus irmãos a atravessarão, apoiados por sua força, indo da Divindade para o homem, da humanidade de volta a Deus. Ele é um Atlas que sustenta o mundo; sobre seus ombros, curvados sob seu peso, recai o kármico fardo do mundo. Ele é a montanha em cujos flancos vicejam as videiras, e cujo cume está perdido em meio às nuvens, que velam sua beleza e glória meridianas aos trabalhadores dos campos abaixo. Suas férteis vertentes sustentam seus corpos, suas alturas desconhecidas apelam sempre por seu arrojo, inspiram-nos a trilhar o caminho que os levará igualmente a trespassar as nuvens e encontrar a liberdade, a luz e o esplendor solar do mundo superior.

Aos sessenta, seus vôos começam a levá-lo para além do reino humano e aproximá-lo da mansão de Deus. Sua humanidade decresce ainda mais, à medida que sua Divindade cresce; permanecendo na terra, aos que não vêem aparece como homem apenas, aos que vêem, sua Centelha Divina flamejando através do homem, aparece como um Deus; para os homens, é homem, para os Deuses, é um Deus.

Aos setenta ele oculta sua glória, pois poderia ofuscar os olhos dos homens e cegá-los com a intensidade de sua luz. Pois a glória de sua Divindade resplende através de todo seu labor, mas ele raramente a revela através de sua pessoa. Aos demais, a pessoa deixou de existir, foi substituída por seu trabalho.

Aos oitenta, se tudo transcorreu bem e o karma foi esgotado, os três mundos[11] já não clamam por ele, ele vai ou permanece à vontade; é livre. Ele entra em uma nova fase, renasce em mundos ainda mais exaltados, e inicia um outro ciclo ainda mais poderoso, glorioso e infinito, que sua alma imensa está começando a galgar, através de regiões imensuráveis e ilimitadas, em direção ao coração dAquele de quem veio.

A fim de atingir tão estupendo resultado e obter o prêmio da felicidade eterna, dos quarenta aos cinqüenta anos ele deve encetar a tarefa de libertar-se da antiqüíssima ilusão da separatividade. Ele deve aprender a perfurar o véu da ilusão, deve reconhecer que as muitas sombras podem ser dissipadas pela Luz Única; que por inumeráveis que sejam as sombras, a Luz é uma só. Naquela Luz ele deve emergir, e descobrir-se lá, e para sempre libertar-se da auto-identificação com as sombras do mundo-sombra[12] onde ele evoluiu. Ele deve aprender a passar "do irreal para o real, da sombra para a luz, da morte para a imortalidade."

Para auxiliá-lo nesta magna tarefa ele deve praticar continuamente a arte da UNIFICAÇÃO, a arte suprema onde nascem todas as artes. Ele deve aprender a ver-se em toda forma, em todo o lugar e maneira, e reconhecer a luz que é ele próprio, além de cada sombra que projeta sobre as areias movediças do espaço e do tempo. Ele pode começar com os homens,  com os animais,  com as plantas, pássaros, sua própria raça  ou qualquer outra, os caídos, os  humilhados, os santos ou o Salvador; ele pode tomar a massa ou o indivíduo, a árvore ou uma simples folha, o oceano ou um mero grão de areia. Em sua longa peregrinação ele terá encontrado afinidade com a Natureza, ou com os homens, que podem servir como ponto de partida para a viagem da afinidade para a unidade, da unidade para a identidade.

Utilizando o objeto que sentir mais próximo, ele meditará, procurando encontrar-se lá, para conhecer e sentir dentro e junto de outra mente e coração. Meditando, ele se esforçará para sentir o ritmo de outra vida, e fundir seu próprio ritmo àquele; ele procurará ouvir a música, procurará a visão, o sentimento e o pulsar da alma alheia, e, tendo achado, o reconhecerá como seu também. A vida então torna-se uma grande experiência, o mundo, para ele, um estúdio onde pratica sua arte. Não pergunta mais o que seu irmão pensa ou sente; não se prende mais na cor ou forma, seja da paisagem seja da simples folha, da concha ou da alga microscópica, pois ele sabe que aquilo que pareceu revelar o real, agora serve como barreira ao conhecimento que procura.

Ele busca a alma de todas as coisas, grandes ou pequenas; para encontrá-la ele se torna a concha, o diamante, a folha de grama, a minúscula flor, a águia ou a pomba; ele deve se tornar o seu irmão, deve conhecê-lo melhor que ele mesmo, deve ver mais claramente que ele a visão daquele outro ser. Ele deve aprender a colocar parte de si mesmo no coração alheio; ele deve mergulhar nas profundidades da outra alma, como um seixo mergulha na água.

Se é a Natureza que excita uma suave beleza derramar-se de sua alma, então é para a Natureza que deve retirar-se. Sentado debaixo da ampla ramagem de uma velha árvore, ele pode procurar entrar em sua alma; pode aprender a sentir a força que se ergue do tronco para o galho, do galho para a folha, e fluindo da folha para fora em radiantes e magnéticas correntes em direção ao ar; ele pode aprender a balançar-se como a árvore ao influxo do vento, a sentir a tensão e o ímpeto pelos quais sua estrutura é mantida erguida; pode sentir a consciência evolucionante interna, expandindo-se ao longo das linhas de força que governam seu crescimento, respondendo à Vontade Divina; pode sentir seu pulsar através de cada átomo e cada célula. Se uma folha cai da árvore, ele também cai, reconhecendo-se uno com a folha, e assim como ela volteia e flutua, colhida pelos redemoinhos de vento, ele também deve voltear e flutuar, e conhecer a sensação da mais leve pressão das correntes de ar deslizando sobre e por debaixo das curvaturas da folha; ele deve mergulhar com a folha, precipitando-se em direção ao solo, e lá encontrando descanso, entre milhares de outras folhas.

Assim, dia após dia, com inabalável paciência, ele deve meditar, buscando adentrar no recesso mais recôndito do coração, na verdadeira vida da árvore. Com intensidade desejo e mente concentrada e estável, ele atingirá aquele nível de unidade em que a vida da árvore e a sua se revelem uma só. Enquanto não obtenha sucesso esta deve ser a prática diária em sua vida. Cada anseio por objetos de seu desejo, cada anelo por união com o ser amado que sempre conheceu, deve ser transmutado e direcionado com a aspiração flamígera e a determinação inabalável de encontrar a alma única, a verdadeira essência da união, e perder-se no oceano da vida una, unindo-se a Deus.

Se ele deseja passar em pensamento através da casca e tronco em direção ao coração da árvore, ainda que possa sentir sua vida, não deve perder-se lá; deve alçar-se em pensamento acima dos domínios da forma, ultrapassar tronco, galhos e folhas, ultrapassar mesmo a concepção de cor, de forma, chegando àquele nível onde lá somente a vida dentro de todas as formas é revelada; então ele pode mergulhar no coração da árvore e conhecer sua vida real. Assim exaltado ele pode descer novamente aos reinos densos da forma  conservando a visão do Ser, trazendo às células e fibras de seu cérebro o conhecimento do Supremo.

Talvez então, se algum passarinho tomasse refúgio entre a folhagem e repousasse em algum ramo, sua alma fluísse para dentro da avezinha como um rio para dentro do mar. O poder da união mais íntima se manifestaria e encheria sua alma com alegria; ele exultará com seu novo poder; um com o passarinho, ele, também, eriçaria sua plumagem e limparia o bico na casca, conheceria o instinto sempre alerta, ouviria o mais tênue som, perceberia cada sombra de nuvem que passa no céu, e sentiria a si mesmo chamando a companheira, conheceria a direção do ninho; sentiria o equilíbrio da forma emplumada, sustentada com facilidade sobre delicadas patinhas, balançando-se sobre o ramo. Então, ao abrir as asas para voar, voaria também, conhecendo a felicidade das asas abertas, a doçura do ar, o deslizar no vento, a descida rápida e chegada junto à companheira.

Então ele pode voltar-se às coisas consideradas inanimadas pelo homem, uma pedra, uma encosta de montanha, um seixo ou uma concha, e encontrar seu coração vivo, e por algum tempo indagar por seu ritmo, e conhecer o significado de sua vida; ou ele pode escolher uma inteira paisagem, como fazem os anjos, e imergir-se lá dentro, até que reconheça o conjunto como Um.

Ele pode acercar-se também das bestas de carga, e compartilhar seus fardos, conhecer a tensão de seus músculos, sentir seu coração batendo, sua paciência sublime, a vontade de servir, a maravilhosa beleza da alma de cada animal que doa-se ao homem. Ele deve aprender a conhecer a sensação e equilíbrio de um corpo suportado sobre quatro pés, o peso, o tamanho, a força, a mente que inicia a compreender, ele deve compartilhar o tormento das moscas nos dias de verão, a pressão da canga, perceber os lábios suaves e tenros esfolados pelo freio; o alívio à retirada dos arreios, a liberdade dos pastos, a suculência da grama verde, o refrigério de uma beberagem, o medo pela incompreensível crueldade do homem, a resposta da alma bruta ao amor do homem, quando este amor é concedido. Assim ele poderá meditar sobre as bestas de carga, os mais fiéis servidores do homem.

Depois ele pode passar ao próprio homem, e tentar conhecer o significado e ideal de uma vida alheia, as lições que deve aprender, e como, e por quê; aprender a ver que em seu estado presente seu passado é revelado, que do passado e do presente pode intuir o futuro.

Esta lição ele aprenderá se libertar-se da escravidão da separatividade e imbuir-se do conhecimento da unidade da vida. Todo homem que encontrar deve ser seu irmão, não por causa da similaridade de forma, ou por pertencer á sua raça, mas pelo conhecimento da unidade da vida. Ele deve conhecer as suas irmãs caídas na vida de luxúria, e se necessário, adentrar em sua alma, e compartilhar a esterilizante degradação de seu modo de vida. A despeito do horror, da agonia, da vergonha, ele não deve admitir divisão entre ele próprio e ela, pois só há Uma Vida, e além do dois, há o Um.

Então, e só então, ele pode verdadeiramente curar e ensinar, então somente ele pode salvar; não pela aplicação de força externa, mas compartilhando a vida interna, ao iluminar a alma, concedendo sua própria força e conhecimento recém adquiridos sobre o Eu que mora no interior, através do qual a alma pode ser limpa.

Assim, no coração de cada homem, em cada modo de vida, em cada raça e cada credo, ele deve encontrar uma entrada e aprender a ver a si mesmo; mesmo se os olhos estão baços pela idade, ou injetados pela indulgência no vício, ou apagados por multidões de quedas, ou brilhando com a radiância esplendorosa da santidade, ou com o fogo do gênio. Através de cada um e de todos ele deve ver o brilhar da luz que ele ama além de todas as luzes, a luz da Única Vida, na qual ele próprio está imerso, a luz de sua própria alma. Assim ele encontrar-se-á em cada homem.

Encontrando o Eu, ele encontrará beleza em toda parte; a despeito da feiúra da forma, ele conhecerá a alegria da união com a vida dentro de cada forma; para ele todas as barreiras terão caído, à medida que tornou-se a encarnação da unidade da vida. E se anjos passarem diante de sua visão expandida, ele será um também com eles, e compartilhará a glória de suas vidas, a liberdade além das sufocantes densidades da matéria, a obediência instantânea à Vontade Uma, o labor sem cansaço e sem fim a serviço daquela Vontade.

Este é o caminho para a liberdade, a senda para o conhecimento, para o poder e o amor, para o êxtase que nunca cessa, que nada pode diminuir, que não vai ou vem como as estações ou eventos, mas é eterno, aumentando em intensidade à medida que a alma adquire capacidades crescentes e à medida que sua longa peregrinação vai terminando.

A estas alturas de serenidade e felicidade eternas a alma do homem pode ascender, e residir para sempre, irradiando continuamente poder sobre todos que o seguem, em todos que estão ainda aprisionados na escuridão dos mundos inferiores. Naquele mundo de paz imperturbável, de equilíbrio que nada pode agitar, Deus convida suas crianças de era em era, chamando-as de volta à casa. Daquelas terras vêm os Salvadores dos homens, os mensageiros de Deus, procurando sempre a ovelha que se desgarrou nas trevas, nas profundas ravinas, atormentada no espinheiro, perdida na floresta escura, aprisionada nas mais fundas paragens da vida terrestre. Deles é a tarefa de resgatar, de vencer, de conduzir, de acolher e carregar em seus braços os errantes, e devolvê-los ao seu lar espiritual. Eles são os grandes embaixadores de Deus. Eles vivem na terra para formar uma embaixada, através da qual podem representar a glória, o esplendor, a felicidade na qual residem, eles, as encarnações da unidade. Mestres da vida, conquistadores da ilusão da forma, iluminados pela visão mais alta; eles mantém viva a chama do idealismo nas almas dos homens, impedem que feneça, que morra, deixando a humanidade sem uma luz que a guie em sua longa jornada através da noite escura do tempo e do espaço. Eles e seus anjos servidores, seus irmãos brilhantes, vivem apenas para mostrar aos homens o caminho da escuridão para a luz.

O ponto crítico já foi ultrapassado, as profundidades já foram vadeadas, o homem agora adentra o caminho de regresso, que o conduzirá de volta á sua eterna morada. Seus irmãos angélicos o apressam no caminho, convidam-no para a via mais curta de rápida evolução, mostram como aliviar-se a si próprio da escravidão das circunstâncias, dão-lhe sua força e conhecimento para que tome seu destino nas próprias mãos, que possa governar sua vida, expandir sua alma, libertar os poderes de seu Eu imortal, e reconhecer-se um Deus, um governador poderoso, um rei espiritual.

Dos cinqüenta aos sessenta ele se estabelece no mundo que recém adentrou; aprende a viver lá, e ainda assim manter ordem e precisão em todas as suas ações no mundo exterior. A luz dos mundos interiores ilumina cada palavra e cada ato; ele é o professor inspirado, o intérprete da lei, o sábio, o conselheiro e guia daqueles que, tendo testemunhado o esplendor e poder de seu vôo, procuram avidamente seguí-lo de perto.

Ele agora se torna para o homem o que o professor foi para o jovem, mas ensina de um outro modo; ele não distribui conhecimentos, nem conduz a princípios: simplesmente inspira; a sua realização pessoal é o fato suficiente. Seus pupilos bebem livremente nas fontes de sua sabedoria, cada um ao máximo de sua capacidade; sua presença em seu meio é só o que precisam. Assim ele ensina. Mesmo enquanto inspira ele cresce, penetrando mais e mais fundo no universo que ele fez seu. Ao penetrar e crescer, sobre seu olhar brilha o fulgor de uma luz ainda maior; ele sente a existência de uma chama ainda mais ardente que se acende em seu coração. Em seu ouvido aguçado um novo som se faz ouvir, como o ruído de um trovão distante, anunciando a chegada de uma tempestade. Em direção a estes sons e luzes sente seus sentidos espirituais voltar-se, algo em si responde, uma chama desprende-se de seus olhos para encontrar a luz; dentro de si mesmo ouve um som em resposta, um grave e poderoso troar; por isso ele é impelido a seguir adiante, mais fundo no coração do ser, nos abismos de sua alma.

Nas suas ações e palavras nos mundos inferiores, um novo poder é percebido; uma força maior, uma vontade férrea começa a ser mesclada a seu amor ilimitado; sua expressão torna-se régia, grandes tarefas são assumidas, cargas maiores são suportadas, e a expansão dos seus trabalhos no mundo da forma atestam seu maior poder nos mundos sem forma. Ele impregna de aceleradora energia todos os que se acercam, um poder dinâmico se revela em cada trabalho que empreende.

Tendo-se tornado um amante do mundo, ele se torna um líder; onde uma vez colheu por força do amor e da compaixão, agora o faz com vontade irresistível; caminha na terra, um gigante entre os homens, acima de todos.

Então todas as forças disruptivas, todos os poderes do ódio, espalham seu veneno e procuram obstar seu progresso, desfazer o seu trabalho, cegar os olhos e corações dos homens, distrair suas mentes, até que se tornem incapazes de ver a grandeza daquele que antes admiraram tanto; elas tornam coragem em medo, amor em ódio, confiança em suspeita. Os que uma vez conheceu como amigos íntimos agora são seus inimigos; ele prova o amargor do amor rejeitado, seu coração é partido por traição e acusações.

Mesmo assim ele deve continuar sem medo e sem peias; por mais escuro que o caminho possa parecer, por mais que seu coração e pés possam sangrar, ele brilha com uma glória cada vez maior nos mundos superiores. Sereno e imperturbável, ele vê o alvorecer de uma nova luz, ouve um novo som, sente seu corpo tremer ante a descida de um novo poder. Ele sabe que nada pode obstar seu avanço no Caminho, por mais perto que pressinta a hora de completar seu destino irrevogável.

Assim é este homem, maravilhoso em sua firmeza, coragem e perseverança, e maravilhosa é sua fé. Eles não podem ver a luz onde se prende sua tocha de coragem e fé inabaláveis; eles só percebem a luta e as lágrimas, as quais, se ainda é imperfeito, podem retardar, porém não interromper, o majestoso e nítido progresso de seus trabalhos sobre a terra. Por esses testes de força e pelo poder que advém deles, ele se torna estabelecido nos mundos espirituais. Lá sua estatura aumenta dia a dia, e dos cinqüenta aos sessenta anos ele se desloca em direção à luz e ao som que o guiam cada vez mais adiante, mais perto dAquele no qual, seus labores cessando, deverá imergir.

Assim o homem deverá passar para a luz e desaparecer da vista mortal. Seu destino está cumprido; esta é a estrada que une infinitude a infinitude, este é o caminho de toda a alma, a trilha que todo o pé deve pisar. É a estrada pré-ordenada por Deus, pela qual toda coisa viva deve trasladar-se à paz eterna.

Enfim é revelado o propósito dos gemidos da vida, do nascimento e da morte, da alegria e da tristeza; só assim um homem pode tornar-se um Deus; eles são seus verdadeiros professores, eles estimulam a liberação da energia divina oculta na alma. Este caminho muitos homens e muitos anjos já trilharam, e o jardim do universo já começa a dar seus frutos. Quando todos tiverem passado pela estrada, toda estrela será um campo florido, nutrido pelos largos rios do espaço interestelar. Este é o sonho que Deus Pai sonha. O homem, uma criatura de seus sonhos, um dia por si próprio sonhará tais sonhos criadores, tirará estrelas de nebulosas, estrelas para as quais ele mesmo será um Sol.

            Vós, que ledes, e não conheceis nada sobre o Eu Imortal, e senti-vos abalados por cada brisa que passa, pelos ventos fortes da paixão, que vos sentis presas das circunstâncias, e não acreditam em destino ou meta, a vós o Anjo fala, contando do significado de vossas vidas, seu propósito e consumação. Ele vos conclama a despertar vossa energia divina, chamar à atividade a vontade divina, a qual é vosso mais íntimo ser, para que vos ponhais de pé sobre a estrada. Não há obstáculo, nem no céu e nem na terra, que possa barrar vosso progresso, uma vez tendo decidido empreender a marcha. Por mais que vos tenhais retardado, cortai vossas grossas amarras, invocai o poder de vossa alma pela meditação e pela prece, chamai o poder que apenas espera ser chamado para manifestar-se irresistivelmente, para dominar os ímpetos da paixão, controlar e purificar os pensamentos, e atender o grito de vosso coração por luz, a prece por orientação, a aspiração que libertará os poderes capazes de vos pôr acima das circunstâncias, para que começais a vos conhecer como governantes de vossos próprios destinos, Deuses com poderes ilimitados para moldar-vos à semelhança dAquele do qual proviestes.

Milhares na vossa raça já realizaram esta grande empresa; outros se adiantam para lá; o caminho já está coalhado de aspirantes, homens e mulheres que adornam a raça e estão a pouca distância da meta. Eles e seus anjos guardiões vos chamam para o caminho, estendem as mãos em boa acolhida, oferecem seu poder e conhecimento crescentes. Por que não vinde, e provai, além de qualquer dúvida, por vós mesmos, a verdade de tudo o que ledes? Não há outro teste, como não podeis negar, além de dedicar-vos como eles se dedicaram, para chegardes onde chegaram. Nós vos chamamos e vos conclamamos a despertar e tornar-vos vosso Eu Superior; a viver vossa vida com cada faculdade desenvolvida ao máximo; para conhecer a alegria de expressão plena de cada poder de vosso coração e de vossa mente.

Despertai de vosso sono, sonhadores da humanidade, pois enquanto dormis não sabereis nada do que é viver. Vossos cérebros estão embotados por sombras, vossos olhos apagados pelo dormir; vossos peitos são arcas de tesouro fechadas, porque só amais a vós mesmos.

Se apenas abrirdes os olhos, se apenas estenderdes a mão, aguarda-vos uma vida tão vívida, tão penetrante, tão plena de êxtase e poder, que vossa existência presente se parece, pelo contraste, a uma morte em vida. Para vos despertar este livro foi escrito, para vos chamar da terra de sombras para a terra da luz, para oferecer-vos a ajuda dos Anjos, dos Sábios, dos Santos, dos Reis espirituais, para ajudar-vos a deixar para trás o passado, e tomar rumo na estrada. Os anjos que vos guardam e abençoam mesmo quando dormis vos dão boas-vindas com alegria ao seu mundo de luz e esplendor. E quando puderdes despertar, anjos e homens poderão conviver, ciclo após ciclo de um poderoso caminho ascendente, que se estende do universo para o cosmos, e do cosmos para a infinitude além. Cantando de alegria, nós marcharemos, e anjos de mundos além do nosso nos encontrarão a cada passo.  Lá, enfim, a dor não existirá mais.

Paz e bênçãos dos Anjos para os Homens.

 

 

 

 

 

PARTE II
 

OS TRÊS CAMINHOS

 

 

Capítulo VII
O Caminho da Vontade

 

 

O Caminho da Vontade é de longe o mais árduo de todos. Aquele que o palmilhará deve invocar em seu auxílio todas as forças de seu ser e concentrá-las em um único ponto, uma única direção. Esta direção é, para ele, a onipotência, tal é a meta. O homem da vontade deve usar os poderes de sua natureza como um general usa seu exército; deve descartar qualquer fraqueza e trocá-la por força; deve reforçar todos os pontos nas paredes que guardam a cidadela de sua divindade; deve cuidadosamente preparar sua armadura e suas armas, pois não deve falhar na batalha. Assim, o essencial é que passe suas forças em revista. Sentado em seu carro – um grande cavalo de guerra de brancura imaculada, simbolizando a verdade, rodeado de seus capitães, ele faz uma esplêndida imagem, completamente arnesado, seu estandarte flutuando na brisa, de uma elevação passa as tropas em revista; ele examina sua disposição e todos os apetrechos necessários para a guerra que decidirá o destino do reino que ele está para governar.

Primeiramente ele averigua seus recursos físicos e analisa suas forças e fraquezas. Cada célula de seu corpo é para ele um soldado que deve cumprir o dever da obediência; cada órgão é um regimento, e cada membro uma brigada; as fibras de seus nervos são mensageiros que ele, cabeça e coração, emprega para dirigir as manobras e operações das forças sob seu comando. Seu corpo deve ser saudável, forte, viril, sensível, educado e refinado, e todos os instintos que assinalam sua origem animal devem ser transmutados em poderes, usados conscientemente pela mente e pela vontade. O corpo deve ser impedido de ter quaisquer iniciativas, exceto aquelas cabíveis a um exército bem treinado no que se refere aos detalhes e às emergências que podem surgir durante o cumprimento das ordens do comandante-em-chefe. À parte disto, o corpo deve ser meramente um instrumento com suas forças completamente controladas, e deve render estrita obediência à vontade que lhe dá vida.

O mesmo no que tange aos sentimentos e pensamentos; estas divisões da armada devem ser igualmente controladas e treinadas, e deve direcioná-las para o único objetivo, que é o cumprimento de seu destino. Ele deve aprender a reconhecer um obstáculo como uma oportunidade, a ver no fracasso de hoje o sucesso de amanhã, a acolher resistências como amigos que testam e intensificam seus poderes; auxiliado pelos obstáculos, falhas e resistências, ele deve marchar em direção à meta em que seus olhos se fixaram. Se se desvia, é apenas para corrigir um erro, para compartilhar sua força com os demais, para estudar as razões de sua queda ou de seu sucesso.

Assim como o soldado deve encontrar o perigo, o sofrimento e a morte, assim o homem da vontade, no decurso de sua vida, encontrará seu caminho cheio de desastres. Ele deve aprender a conhecer tanto o horror como a glória da guerra; seu horror é a crueldade física e a morte que lhe é inseparável; sua glória é a regeneração espiritual oriunda de seu heroísmo, auto-sacrifício e coragem.

O homem da vontade treinou-se em muitas vidas de guerra sobre a terra, mas agora as batalhas são em outro campo e aprende a conquistar outros mundos. Ele é como um Alexandre, nunca satisfeito, mas sempre ansiando por estender as fronteiras de seu reino, não externamente, mas internamente, onde os domínios infinitos do mundo espiritual chamam com voz irresistível o aventureiro e explorador em sua alma. Não procura mais fincar a bandeira de uma só nação sobre as cidadelas que vai conquistar, ou nas terras ignotas que vai descobrir; a bandeira que ele desfralda é gravada com uma só palavra. Esta palavra é VONTADE, e significa o poder do Rei que o mandou e a quem serve. Sob esta bandeira ele luta, explora e procura grandes aventuras. Ele subjuga o mundo do mal, ele o preenche com romance, e abre caminhos por terras desconhecidas, para que os mais fracos possam passar. Onde quer que esteja, comanda; onde quer que vá, lidera; onde quer que lute, conquista, pois dentro de si reside um poder que não é seu, mas do qual é cada vez mais uma perfeita encarnação. No coração do conflito, na exaustão a que tantos labores reduzem seu corpo e mente, aquele poder o reergue, até que os homens o reconheçam invencível. Para aquela vontade ele é, porém, apenas um instrumento, obediente como seu corpo o é em relação à sua mente.

Sua hora usualmente chega quando depõe suas armas, quando seus camaradas e seguidores de muitas vidas de façanhas e gloriosas conquistas aprendem a não reconhecê-lo mais como seu capitão e líder de um exército guerreiro; pois ele será convocado à paz, e às muitas recompensas que o aguardam naquela Cidade onde o Rei, a Quem serviu durante séculos, o coroará com a coroa de Sua própria soberania, e lhe transmitirá o comando absoluto sobre as terras e povos que fez seus. Então ele poderá vir a seu povo como sábio conselheiro, como pai, como um embaixador de seu Rei; todas as almas que o amaram e seguiram através de muitas guerras, em muitas vidas, o terão agora como salvador e rei; eles também o servirão, assim como ele tem servido ao Rei; e ele as conduzirá ao longo daquela estrada que ele passou, até que eles também sejam coroados, e na coroação conheçam o esplendor e o poder da vontade única e irresistível.

Assim o homem da vontade cumpre seu destino. Ela se torna um rei no poder do Rei único, um embaixador daquele Um que ele agora conhece em si mesmo. Vontade é o poder que ele derrama, vontade é a bênção que distribui, pois agora ele acende dentro das almas de todos os seus súditos a chama da mesma vontade irresistível da qual ele é uma parte. Com seu toque, os homens sentem sua chama arder em si mesmos; assim ele lhes concede a primeira visão da divindade dentro de si mesmos, a primeira visão do esplendor que é sua missão revelar. Ele atiça estas centelhas até que se tornem labaredas, até que todas as pessoas de seu reino incandesçam com o mesmo fogo que o despertou ao longo da estrada; eles aprendem a incinerar todos os obstáculos pela ígnea intensidade de sua vontade, até que um dia, por sua vez, e aos milhões, aprendam a governar e derramar sobre o mundo a bênção daquela Onipotência cujos sacerdotes ter-se-ão tornado.

Assim, ao longo das eras, o fogo da Vontade vai passando, da poderosa Chama que ilumina o universo, através dos fogos vivos que os homens chamam de sóis, que dão vida, luz e poder a sistema após sistema, através do grande Doador de Vida de cada planeta, seu senhor e governante absoluto, através dos reis espirituais que O servem, os poderosos Senhores da Vontade, seus regentes e agentes, e através deles a seus seguidores, o povo do mundo, e mais adiante ainda, aos animais e formas de vida inferiores.

Erguei-vos então, homens da Vontade; deixai de ser renegados; voltai aos postos que tendes abandonado e ao serviço daquela estupenda hierarquia de reis, no conhecimento certo de que um dia vós mesmos obtereis o poder de comandar a vasta armada que é vós próprios; até aquele dia em que sejais, vós mesmos, coroados monarcas de algum mundo futuro e sejais chamados de Sol, aquele dia em que tomareis assento entre os rodopiantes sistemas estelares como regentes e governadores de um inteiro Universo.

 

 

 

 

Capítulo VIII

O Caminho do Conhecimento

O caminho do conhecimento é o caminho da luz, e aquele que deve trilhar esta vereda deve aprender a deixar de lado todos os atributos que toldem esta luz, pois seu destino é encher-se tanto de luz até que ela possa irradiar através de si para iluminar o mundo inteiro. Desde o início, portanto, deve despir-se de tudo possa velar a luz dos olhos daqueles que, mais tarde, irá iluminar.

O preconceito é o grande lançador de véus, o maior inimigo de todos os que procuram conhecimento, a maior barreira à iluminação. Deixe-se que o neófito, em sua busca de conhecimento, comece a estudar a si mesmo, pois somente conhecendo a si vai um dia conhecer o grande Eu; somente pelo auto-conhecimento ele poderá descobrir os muitos véus em que sua longa peregrinação o envolveu; somente pelo auto-conhecimento ele poderá descobrir a maneira de lançar fora tais véus. Para dentro, pois, e não para fora, deve o estudante lançar-se nesta pesquisa; tendo encontrado o Eu dentro de si, o Eu externo lhe será revelado.

Há um caminho levando do não-eu ao Eu, do material ao espiritual, da ignorância para a iluminação; este caminho é o caminho do conhecimento; uma das extremidades está na carne, a outra, no espírito. O homem de carne deve procurar entrar na carne, enquanto sua contraparte espiritual – o homem interno – deve buscar a entrada no espírito. Encontradas as duas entradas, deve procurar o centro ao qual as duas entradas conduzem. Este centro comum é a Mansão de Luz, o lugar de iluminação, o Santo dos Santos, onde espírito e matéria são unidos pela luz. Não é um edifício, ou algum sacrário terreno, é o Templo da Luz, de onde brilha a "verdadeira luz que ilumina cada homem no mundo"; é o vaso através do qual a Luz Única, que brilha eterna do sol espiritual, alcança a escuridão dos mundos materiais em sua caminhada em direção à iluminação.

Dentro do templo há um altar, e no altar arde uma chama que acendeu quando sua alma foi formada, e arde continuamente até que um dia o próprio homem se transforme na labareda; então, como Sansão na antigüidade, ele investe com todas as forças contra os pilares do templo, que cai em ruínas ante seus pés; pois ele, que se tornou um Deus, não precisa mais de um altar para cultuar aquilo em que se tornou; assim o templo cai em ruínas, e os milhares de mortos soterrados são os inúmeros véus que ele agora aprendeu a descartar, para que a luz brilhe em plenitude sobre o mundo.

Antes desta grande consumação, muitas vidas de estudo e pesquisa ainda há pela frente, para o neófito que anda pela trilha do conhecimento. Em suas muitas vidas, antes que a grande decisão tenha nascido, ele tem estado cercando a si mesmo com véu após véu, cada um velando mais e mais a luz que vem da chama sobre o altar de seu Eu Superior.  Doravante ele deve entender-se como um desvelador, pois tal é sua missão no caminho do conhecimento. Primeiro ele deve romper os véus que lançou sobre si mesmo, e depois retirar os véus alheios, pois cada professor verdadeiro é um desvelador. O maior de todos os véus é o preconceito, e daqui em diante, em seu caminho, ele deve ser como uma criancinha, professando a mais chã ignorância, pois, possuindo nenhum conhecimento, ele não pode ter nenhum preconceito; para que, esvaziando-se, possa ser preenchido; para que, tendo uma mente aberta e desanuviada, possa oferecê-la como cálice perfeitamente translúcido, para ser enchido com a luz do conhecimento.

Tendo se tornado uma criancinha, prontamente lance fora tudo que pensa conhecer ou saber, tudo que é prezado pelos homens, e deixemo-lo buscar o caminho que leva da carne ao espírito. A entrada para o caminho está no coração; do coração, deve encontrar uma passagem para o cérebro, e, através do cérebro, para os mundos do pensamento e sentimento, nos quais as fundações do Templo da Luz estão lançadas. O Templo está adiante, e a partir do mundo do pensamento ele deve construir uma firme escadaria que o levará até os portões do Templo. Esta escadaria é construída pelo estudo, pela concentração de pensamento, e pela incansável busca de conhecimento.

Esta é a maneira de encontrar e trilhar o caminho do conhecimento, construir a escadaria e chegar aos portões do Templo. Deixe-se que o estudante lance fora seus livros, seus tubos de ensaio e suas réguas para trás, pois ele deve aprender a ler nos livros da natureza, entesourar suas descobertas no tubo de ensaio de sua mente, e aferir suas descobertas na balança de sua mais alta intuição. Emancipando-se destes instrumentos superficiais, que se retire para algum lugar onde possa desfrutar de algum tempo de paz imperturbada. Uma cela de retiro, um jardim, as florestas, os campos, alguma praia recôndita, algum refúgio na montanha, qualquer um destes poderá ser suficiente para lançar-se à viagem de descoberta. Deixe-se que trilhe o caminho que todos os sábios e mestres do mundo trilharam em sua busca pela luz, luz que ora brilha através daqueles olhos, gloriosa e resplandecente.

Que não tema a estranheza desta procura, não tema despojar-se de todos os suportes até então considerados essenciais; não tema o ridículo imposto pelos que ainda sentem-se dependentes dessas coisas, e que cegamente disfarçam sua ignorância numa ilusão de conhecimento. Para a luz que buscais, tal conhecimento é como trevas, pois todo aquele que alto pusestes em vosso apreço não possui senão a pele, a penugem, a casca, e o cerne sempre lhe foge; então eles montam sobre as cascas e a oferecem como conhecimento. Talvez haja apenas um punhado, dentre vossos homens de conhecimento, que não esteja cego pelo preconceito, que não confunda aprendizado com conhecimento.

Tomai como guia esta voz que vos ensina agora, a voz de um anjo que conquistou a meta através destes mesmos caminhos na busca de conhecimento, e agora oferece-se àqueles que buscam uma luz maior da que brilha em universidades, pois é professor mais sábio que qualquer professor mortal pode ser; traz a luz do conhecimento espiritual para iluminar as trevas do mero aprendizado terreno, e pode conduzir o estudante até a verdadeira cátedra do conhecimento, a qual jaz no fundo de vosso Eu mais verdadeiro. Vinde, irmão humano, aceitai minha direção, e eu vos guiarei até vosso destino.

Tendo-se retirado e descansado completamente, enviai uma ardente invocação aos Deuses da Luz e ao Senhor da Luz, para que possais ser iluminados em vossa busca, e professai um voto solene de que todo o conhecimento eventualmente obtido será dedicado ao serviço de vossos irmãos. Procurai o conhecimento, só assim podereis ensinar; procurai a luz, só assim podereis iluminar os outro; procurai o poder que o conhecimento dá, para que possais rasgar os véus do preconceito e da ignorância nos quais a raça humana está tão fundamente envolta. Vosso ofício deve ser dúplice: deveis ser um tocheiro e um desvelador.

Tendo erguido vossa prece e professado vosso voto, pratiqueis a arte de colocar vosso corpo inteiramente em repouso, de domar as tempestades das emoções, de aquietar vossa mente, pois são preliminares imprescindíveis. E quando a calma reinar em vossa natureza interna e externa, pensai fortemente em vosso coração como uma gruta, onde vossa alma possa penetrar em sua busca de luz. Pensai firmemente, durante vários dias, na gruta de vosso coração, e tentai concentrar vossa mente lá; gradualmente, onde só havia escuridão, uma luz começará a brilhar – uma luz que o guiará no caminho. Aprofundai-vos na contemplação da verdadeira luz, que brilha em cada homem, cujos lampejos finalmente aprendeis a discernir. À medida em que a luz cresce e começa a vos envolver, alçai-vos em pensamento, dentro de vós mesmos, em direção ao meio de vossa cabeça, onde encontrareis uma luz maior; tendo encontrado esta passagem, continuai a meditar sobre a luz. Pensai em vós como um fulgor da Luz Única, uma centelha da Chama Única, e forçai com todos vossos poderes de pensamento e vontade ainda mais acima, ainda dentro de vós, para dentro daquela Luz paternal de onde saístes. Alçai-vos através de vossa cabeça, através dos sentimentos para os pensamentos, ansiando beber a essência-pensamento, para tornar-se pensamento encarnado, e fixai vossa mente de modo inflexível sobre a luz, procurando a porta do Templo.

A chave está em vossas mãos, eu vo-la dei; é o conhecimento de que o clarão que constitui vosso ser emana da Luz Única, a faísca que sois é parte da Chama Única: que possais ser o que em verdade sois.

Gradualmente vós aprendereis a viajar por esta estrada que leva do coração à cabeça, e da cabeça ao lugar da luz. Encontrareis vossa luz iluminada por outra luz, que vem do alto, e aprendereis a reconhecer seu brilho. Através destes exercícios diários tereis dominado todas as muitas tendências do sentimento e do pensamento de escapar ao controle. Tereis construído os degraus que vos levarão às portas do Templo. A chave está em vossas mãos, colocai-a direto na fechadura e, girando-a, entrai no Templo da Luz.

À medida em que subis os degraus, esforçai-vos com todos os poderes de vossa vontade, procurando livrar vossa alma do invólucro de carne, como se devêsseis ultrapassar a própria abóbada celeste, à procura de luz. A palavra-chave, que todos os que entram no Templo devem conhecer, e que deve ser objeto de contínua meditação, é: "O brilho e a Luz são UM",  ou "A centelha e a Chama são UMA". Da concentração sobre este ponto passai à meditação, onde todo o conhecimento do mundo externo é obliterado; da meditação passai à contemplação, onde todo o conhecimento do eu é obliterado, onde só a luz persiste.

Assim passareis pela porta do Templo, e, tendo passado, não precisareis mais de nenhum guia, pois vos encontrareis na presença dAquele que vos tem guiado através de cada vida, desde vossa primeira encarnação humana: vosso Eu Superior, que é uma encarnação da luz. Ao vos ajoelhardes ante o altar onde arde a sagrada chama, ele vos alimentará com alimento espiritual, colocará em vossas mãos a espada com a qual, doravante, rasgareis todos os véus, e vos dará uma tocha, por meio da qual todas as trevas se dissiparão.

Finalmente, donde estais, junto do altar, olhareis para baixo, a terra onde viveis, e começareis a saber. A luz que agora é vossa vos desvelará os segredos que outrora foram ocultos, e podeis retornar a vossos estudos agora com a certeza do sucesso, pois a chave do conhecimento está em vossas mãos, e o cálice do eu inferior está repleto do vinho da sabedoria. Diariamente devereis ajoelhar-vos diante do sacrário, para que o cálice possa ser novamente enchido. Tendo posto vossos pés no caminho, marchai mais e mais fundo em vosso eu interior, não descanseis jamais, até que o clarão se torne de novo a Luz, e a centelha novamente se torne a Chama.

Em vossa busca por conhecimento, aprendei a arte da meditação; colocai diante de vós o objeto de vossa pesquisa, seja uma jóia, um flor, um animal ou um homem; fixai vossa atenção e meditai neste objeto como sendo uma viva e prefeita expressão dAquele que é imanente nele. Vós não podeis descobrir perfeita verdade a menos que a forma que vos serve de moto seja perfeita e viva. Meditai sobre a imanência, procurai a alma que mantém a forma viva; encontrando a alma, meditai sobre ela, do mesmo modo como meditastes sobre a forma, e procurai nela o conhecimento do modo como vive, e achando o modo, procurai qualquer outro conhecimento de que tenhais necessidade. O passado, ainda que remoto, pode ser revelado ante vós, para que possais entender os caminhos percorridos; com este estudo o processo de desenvolvimento pode ser estimulado. Tendo discernido o passado, olhai reverentes o futuro, procurando obter a visão do todo. Não podeis meditar sobre uma flor cortada ou seca, pois já não têm conexão com sua alma, e a flor já não sabe por que meios vive: este conhecimento reside na alma da flor.

Evitai os escuros caminhos da pesquisa com animais como se evitásseis o pior dos infernos, e não há pior inferno em toda a criação do que a mesa de vivisseção, não há maior cegueira do que aquela dos que pensam que empregar crueldade contra outra parte da vida de Deus pode trazer iluminação para si. Apenas soubessem que estão construindo véus tão densos sobre si mesmos que uma centena de vidas não bastaria para os redimir!, e mesmo assim a verdade ocultaria sua face brilhante de seus olhos, envergonhada do que terão feito usando seu doce nome. Procurai a verdade entre os vivos, e encontrareis a verdade viva, e o vasto tesouro de conhecimento da Natureza será vosso. Este é o ensino a respeito da via meditativa.

 

 

 

 

Capítulo IX

O caminho do amor

 

Aquele que trilhar o caminho do amor deve descobrir aquela alquimia espiritual que transmuta o amor mais baixo no mais alto; deve conhecer a ciência sagrada pela qual as piores qualidades da alma, passando pelo crivo do pensamento, possam ser sujeitadas pelo fogo ardente da vontade, para que sua essência possa ser destilada, gota a gota, e então colocado nas mãos do experimentador o tão almejado elixir da vida. Do vil obterá o puro; do imperfeito, a perfeição; do impermanente, o eterno. Até que essa ciência seja aprendida, e tudo o que for baixo tenha sido purificado, o homem não pode ser um salvador do mundo.

Um salvador do mundo é aquele que se emancipou de toda fraqueza humana, caminhou pela estrada do amor e, caminhando, tornou-se divino. Os que vão passar por esta estrada, a qual atravessaram aqueles cujos pés sangraram, devem aprender a ciência que eles aprenderam; deve preparar a cruz do pensamento, deve acender em si mesmos o ígneo poder da vontade e, tomando cada vício, fazê-los objeto de experimento, e então transmutá-los, um a um, na virtude oposta, pois, acima de tudo, o amor deve ser puro.

Assim como o lixo terrestre é destruído pelo fogo, o lixo da alma deve ser incinerado pelo fogo da vontade. Todo o vício, ainda que grande, esconde um precioso perfume que ele procura, cada fraqueza se revela fonte de uma força oculta, cada erro esconde uma verdade; vício, fraqueza, erro, estes são os equipamentos com os quais o homem começa a palmilhar a estrada do amor. A fim de que sejam transformados em seus opostos, o homem deve retirar-se para o laboratório de sua alma, e lá preparar os instrumentos de seu trabalho. Os instrumentos são: pensamento e vontade; estes dois, apenas, fornecem tudo de que necessita; de sua união uma criança nascerá; a criança é o amor. Os homens a conhecem como Hórus, ou como Cristo.

Tendo-se retirado para a reclusão dos recessos mais íntimos de sua alma, aquele que um dia será um amante da humanidade deve estocar seus recursos, deve procurar em seu eu terreno as ervas das quais extrairá as essências procuradas. Distanciado de seus desejos, ele os cortará um por um do solo de sua natureza, onde tão firme deitaram raízes. Vício, sexualismo, sensualidade, impureza, egoísmo, crueldade, mentira, indiscrição, superstição, avareza, e ilusão, tais são os nomes das plantas que ele juntará na selva de sua natureza inferior, selva cujo dever seu é transformar no mais refinado jardim da terra. Cada planta que tiver arrancado ele porá sob a minuciosa lente de seu pensamento e provará ao fogo de sua vontade inquebrantável; este fogo não deverá abrandar-se, menos ainda extinguir-se, até que raízes, folhas e flores se tenham consumido. Então, no receptáculo espiritual, o veículo de seu Eu Imortal, no qual reside a imortalidade, o líquido precioso que destilou será recolhido, gota a gota. Lá será guardado até que a secreta farmácia de sua alma seja abastecida, prateleira após prateleira, com aquelas essências vitais das quais fluirá um dia a panacéia universal. Esta panacéia é o amor.

Assim aquele que um dia deverá ser amante, deve iniciar sendo operário e estudante. Deve embeber-se da ciência da alma, e deve obrar continuamente na aplicação daquele conhecimento; tampouco necessita ir a qualquer lugar para obter os materiais de sua pesquisa, pois a natureza ordenou que cada homem produza em si mesmo todos os elementos de que precisa. Assim ele direciona todas as suas forças e todos os seus poderes de vontade e pensamento sobre os produtos de seu próprio ser - não sobre seu próprio ser, não sobre si mesmo; senão, viajando para dentro, descreverá um círculo que se fecha sobre si mesmo, e desse modo bloqueará todo o progresso, quando deve delinear uma espiral que, volta após volta, o alça aos mundos espirituais; não seja a concentração, portanto, sobre si mesmo, mas sobre os produtos de seu ser.

Tampouco deve prestar atenção nas fraquezas de outras pessoas, pois só de si mesmo ganhará forças. Cada homem é completo, cada homem é diferente, são como facetas de uma mesma jóia, e aquilo que cada um destila de sua completude será diverso da destilação de outro. O grande Alquimista somente pode misturar a miríade de essências destiladas por miríades de homens e fazer um único e glorioso perfume. Até que este grande experimento seja completado Ele trabalhará sem cessar no laboratório universal em que Ele, o Cientista Supremo, obra de idade em idade.

O amor que salva os mundos guarda apenas tênue semelhança com aquilo que os homens chamam de amor; antes é um derramar universal de poder, sabedoria e conhecimento sobre todas as formas de vida, sem distinção de idade, corpo ou alma. Não distingue entre o inseto e o homem, o animal ou o anjo, o pecador ou o santo; todos estão igualmente incluídos na glória de seu espantoso fluir. Não julga o homem ou a besta, o anjo, árvore ou flor, tampouco detém-se para avaliar as bênçãos que distribui, tal é o amor que se derrama continuamente do coração dAqueles que são Salvadores do mundo pelo grande poder do amor. Seu amor não procura abraçar, nem envolver; à medida que flui, impregna cada célula, cada átomo do corpo daqueles que recebem seu benefício.

Deixai que o peregrino na senda do amor comece a imitar esta perfeita maneira de amar, que comece a tornar seu amor igual ao dEles; pois ele também deve aprender a irradiar uma correnteza de luz rósea, contribuindo com sua porção no amor universal; ele deve emancipar-se cada vez mais da escravidão do amor terreno às formas; jamais permitirá que uma só forma concentre seu amor, ou uma única pessoa seja o único objeto de seu amor, pois ele aspira a ser um amante universal. O amor que ele derrama é direcionado à alma, para auxiliar o desenvolvimento do Deus interno em evolução, e não à forma. Gradualmente ele deve cortar cada laço terreno, até que nenhuma pessoa no mundo possa reivindicar a posse exclusiva de seu amor. Ele deve amar a todos, e com um amor tão compassivo, tão terno, tão cheio de divina bondade, que à sua luz brilhante e poder qualquer amor humano pareça apenas escuras sombras de desejo. Mais tarde, o amor que agora sacrifica ser-lhe-á restituído em plena medida, quando os homens puderem ver nele um salvador pelo poder do amor, e, vendo, possam igualmente devolver-lhe um amor que ele ensinou a purificar. O ideal de amor, como um todo, deve ser elevado, deve se desvencilhar inteiramente dos abraços sufocantes do desejo; o peregrino deve se tornar puro, altruísta e livre, se o amor com o qual deseja salvar o mundo deve ser puro e livre.

Vós, que trilhais esta vereda, que sentis o chamado do amor, que anseiam curar, ensinar e salvar, deveis fazer vossa escolha. Estais dispostos a abandonar todas as felicidades que estivestes acostumados a tomar como amor, a renunciar à felicidade do amor correspondido? Sentindo uma compaixão crescente em vosso coração, cônscios de um poder de amar que aumenta cada dia, estai prontos para desatar todo laço humano, a fim de que vosso amor terreno possa ser transmutado em amor que é divino? A cela, a cova do ermitão, a floresta, a fenda na montanha, oferecem locais para vosso retiro, onde podereis, sozinhos, subjugar os demônios do desejo e romper as cadeias que vos mantêm ligados à servidão da carne; antes, nenhum retiro é necessário, a cela ou a gruta estão em vosso íntimo, e a não ser que o tenhais achado dentro de vós, nenhum outro lugar externo vos será de utilidade. Aprendei, pois, a encontrar o lugar da paz dentro de vós; retirai-vos para o  silêncio de vosso ser e lá, perfeitamente aparelhados de mente e coração, avaliareis a natureza da tarefa que tendes em mãos. Visualizai claramente a meta que desejais, e notai os obstáculos do caminho. Estas barreiras devem ser suplantadas uma a uma. Procurai transformar, antes que destruir; não matai a luxúria, antes retirai dela o amor, e deixai-a então perecer; não matai o desejo, antes retirai dele a vontade, e então abandonai-o à morte; não matai o mau pensamento, retirai dele a essência do pensar, e então deixai-o morrer.

Assim como deveis evitar o amor humano e tornar-vos um homem à parte, do mesmo modo deveis vos apartar do homem que considerastes vós próprios. Notai que a conquista se dá pelo retiro, e não pela morte. Retirai-vos, pois, de tudo o que se vos opõe; vosso caminho para a vitória não passa pela conquista de vossos oponentes, internos ou externos, mas pela salvação de todos eles. Cada antagonista que se volta contra vós deve ser conquistado para vós; de cada poder do mal que vos fizer frente no caminho extraí o bem, e deixai o resto perecer, até que em cada forma de vida aprendais a ver o bem, e, aprendendo a ver, aprendais a amar, até que, para vós, o mal já não exista.

À luz de vosso amor crescente, o mal não passa do bem em germe – uma fase necessária na divina alquimia.

Assim crescereis em sabedoria, força e conhecimento, componentes do amor salvífico que aspirais irradiar sobre o mundo. O amor será vossa rainha, e vós seu cavaleiro, ela vos dará um arnês invulnerável, pois nada, no céu ou na terra, prevalece contra o poder do amor. Montado no cavalo branco da verdade, dom de tal rainha, dissipareis toda escuridão, pois nenhuma sombra pode estar onde está a luz de tal amor que é divino. A radiância celestial iluminará vossa fronte, a rosa mística desabrochará em vosso peito, a beleza divina, radiosa como a manhã, fulgurará de vossa pessoa; vos tornareis como um novo Galahad, e se vos será dada a visão do Santo Graal.

Saí deste vale profundo onde só a muito custo débeis raios de sol vêm cair, mas tomai vosso rumo, que agora vedes descortinado ante vós, pois ele vos levará ao topo da montanha eternamente iluminada pelo sol espiritual.

Não achareis dificultosa demais tal caminhada, pois o mesmo poder que vos permite ver a estrada vos tornará aptos para percorrer suas asperezas. Se puderdes verdadeiramente ver, podereis verdadeiramente andar nela. Não vos retardeis lamentando os companheiros que deixais para trás; encontrareis novos amantes e novos amigos que jamais vos deixarão. Não temais a solidão da empreitada espiritual, pois tendo posto vosso pé na estrada, daí em diante jamais estareis sozinhos. Guias humanos e angélicos andarão a passo convosco, vos avisarão dos perigos e vos conduzirão ao objetivo.

Vinde, pois, à grande aventura, provai a vós mesmos que os gloriosos tempos dos cavaleiros andantes não se apagaram, que Galahad e Percival ainda vivem, que o Santo Graal não foi perdido, e que o Rei ainda preside àquela Távola Redonda que existe desde que o mundo começou. Não choreis pelo amor que deixais atrás; amor é o prêmio que vos aguarda ao fim de vossa trajetória. Não vos apegueis às lágrimas dos que vos choram a partida; o que eles agora perdem por um breve momento reencontrarão na eternidade. Laços terrenos e amizades, por sua própria natureza, se desfazem; vossos laços com aqueles com que doravante vos unireis nunca deverão se partir, pois são dum amor que é eterno. Vossos amigos e amantes verdadeiros vos aguardam no caminho, com eles devereis conhecer a perfeição de uma companhia que só é encontrada nos reinos espirituais.

 

Eia, pois, direto ao topo! Aqueles que hoje abandonais um dia salvareis, quando entrardes na posse de vosso destino e vos tornardes o Amor Divino encarnado sobre a terra.


NOTAS


[1] Na acepção mais comum, encarnações divinas.

[2] Vide Nota do Tradutor.

[3] Ego, no original.

[4] Life-force, no original.

[5] Creative urge, no original. O Autor se refere ao instinto sexual.

[6] O Autor se refere à criação de novos seres humanos, ou seja, à reprodução física da espécie.

[7] Nerve-force, no original: o tipo especial de energia ligada ao sistema nervoso e que rege a postura, a resposta dos membros e os reflexos corporais, proporciona aquele estado natural de viva atenção ao entorno típico dos animais e dá presteza e precisão nas ações e movimentos.

[8] Manhood, no original.

[9] O ato sexual.

[10] Passagem obscura.

[11] Os mundos material, emocional e mental.

[12] Os mundos inferiores ao mundo espiritual.

 



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